Em um cenário onde a agricultura familiar ainda enfrenta desafios como a falta de acesso a políticas públicas e a invisibilidade do trabalho feminino no campo, iniciativas como o Quintais das Margaridas surgem como faróis de transformação. Executado pela Associação Cristã de Base (ACB), o projeto acompanhou, ao longo de 12 meses, 80 mulheres agricultoras dos municípios de Crato, Nova Olinda e Missão Velha, no Ceará, promovendo não apenas técnicas agroecológicas, mas também fortalecendo a autonomia econômica e social dessas trabalhadoras rurais. 

O projeto vai além da simples capacitação técnica: ele reconhece que os quintais produtivos, espaços tradicionalmente geridos por mulheres, são centrais para a segurança alimentar e a economia das famílias camponesas. Ao oferecer assessoria agroecológica, intercâmbios e formações, o Quintais das Margaridas valoriza saberes ancestrais e ao mesmo tempo introduz ferramentas inovadoras, como a Caderneta Agroecológica, distribuída a 25 participantes. Esse instrumento não é apenas um caderno de anotações, mas uma ferramenta política. Ela torna visível o que muitas vezes é ignorado: o trabalho feminino na produção, no processamento, nas trocas e na comercialização de alimentos saudáveis. 

Os registros feitos nas cadernetas evidenciam o impacto concreto da agroecologia. Quando uma agricultora documenta o que colhe, consome e vende, ela não só organiza sua produção, mas também comprova sua contribuição econômica, fortalecendo argumentos para reivindicar melhores políticas públicas. Além disso, a prática reforça a economia solidária, mostrando que é possível gerar renda de forma colaborativa, sem depender de modelos exploratórios do agronegócio.  O projeto também ressalta um aspecto fundamental: a autonomia das mulheres do campo está intrinsecamente ligada à soberania alimentar. Ao incentivá-las a cultivar seus quintais de forma agroecológica, livre de agrotóxicos e em harmonia com o bioma da Caatinga, o Quintais das Margaridas não só melhora a qualidade de vida dessas famílias, mas também preserva o meio ambiente. 

Os resultados alcançados demonstram que investir nas mulheres rurais é investir no futuro da agricultura familiar. A conquista da marcha das margaridas deveria servir de inspiração para políticas públicas mais amplas, que reconheçam a iportancia de projetos como esse. Afinal, quando as mulheres do campo avançam, toda a comunidade colhe os frutos. 

Enquanto o agronegócio avança com monoculturas e desertificação, projetos como este provam que outra agricultura é possível — mais justa, mais sustentável e, acima de tudo, mais humana. As margaridas do sertão cearense estão florescendo, e seu cultivo é a esperança de um novo modelo de desenvolvimento rural mais sustentável. 

O projeto quintais das margaridas é uma realização da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), por meio do Programa Quintais Produtivos das Mulheres Rurais, e apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).